
Seu  nome Carmem, era órfa de pai e mãe, morava com os tios que a tratavam  como escrava por anos, nunca soube o sentido da palavra felicidade.  Analfabeta, somente conhecia os segredos da cozinha e da limpeza que era  obrigada a fazer diariamente. O assédio de seu primo tornara-se  insuportável conforme crescia em formas e beleza. Tanto o rapaz insistiu  que acabou levando-a para a cama, onde foram flagrados pela velha tia,  que em nenhum momento duvidou da palavra do filho que acusava a moça de  seduzi-lo dia após dia. De nada valeram os apelos e juras de inocência.  Fora colocada na rua sem um tostão e apenas com a roupa do corpo. Agora  estava ali perambulando por ruas que não conhecia em uma noite escura e  com lágrimas correndo pelo belo rosto. Um homem aproximou-se dela: - O  que faz uma moça tão bonita perdida por aqui? E porque chora?  Desalentada, começou a falar tudo que havia se passado. Não tinha nada a  perder. Quem sabe aquele rapaz não a ajudaria? Fora o único que  mostrara interesse no seu drama. Após ouvir tudo ele disse: - Venha  comigo, tenho um lugar para você ficar! Sem outra opção a jovem o  seguiu. Entraram em um casarão escuro em que somente uma pequena luz  bruxuleava. Uma senhora vestida e maquiada com extravagância para àquela  hora da noite, atendeu-os prontamente: - Mais uma menina, Jorginho? De  maneira brusca, o rapaz agarrou a mulher pelo braço e sussurrou-lhe: -  Esta é minha, vou querer somente para mim! - Calma lá garotão! Se você  pagar não vejo motivo para que não seja sua. A partir desse momento  Carmem transformou-se em mais uma menina da famosa Madame Eglantine. A  principio deitava-se com Jorge pela gratidão, aos poucos, porém foi  tomando-se de amores pelo rapaz, que em pouco tempo enjoou do que tinha  com facilidade. Depois de dois meses de amor incondicional, o rapaz  procurou pela Madame e falou: - Já está na hora da garota fazer a vida,  não tenho mais como pagar pela sua estadia aqui. Eglantine sorriu com  desdém, pois já sabia que o final seria esse, não era a primeira que  passava por isso em sua casa. Ao ser informada de suas novas  atribuições, a moça desesperou-se, chorou uma tarde inteira, mas sem ter  como fugir da situação preparou-se para cumprir o combinado. Sentada no  grande salão mal iluminado Carmem aguardava. Cada vez que uma das  meninas subia acompanhada de alguém, ela suspirava de alivio por não ter  sido escolhida. No entanto, quando já achava que estaria livre por  aquela noite, Madame aparece com um senhor: - Querida, trate muito bem o  Comendador Belizário, ele é prata da casa! Ao olhar o homem sentiu o  estômago revirar, ele podia ser seu avô! Eglantine percebeu e fixou um  olhar gélido sobre ela: - Leve-o para seu quarto e faça tudo para  agradá-lo. Com os pés pesados ela subiu as escadas que a levariam para o  sacrifício, puxando o comendador pela mão. O velho fungava em sua nuca e  ela tentava desviar do contato, ao sentir o hálito mal cheiroso não  resistiu pediu que ele a soltasse e o empurrou com violência. Isso  somente excitou mais o homem que agora literalmente babava em seu  pescoço. Instintivamente agarrou a haste de bronze do abajur e desferiu  com ódio na cabeça de Belizário. O sangue correu imediatamente manchando  seu seio. Mas o velho não caiu, tomado de ira, apertou o pescoço da  jovem até que, com os olhos vidrados, ela deu o último suspiro.  Assustado pelo que fizera e com o sangue escorrendo pelo rosto, o  comendador correu para as escadas onde tropeçou e rolou caindo morto no  meio do salão de Madame Eglantine. Durante muitos anos o espírito de  Carmem vagou por regiões escuras onde reviu e reviveu carmas e pecados  de vidas anteriores. Amparada por linhas auxiliares começou seu trabalho  de evolução espiritual utilizando a roupagem da Pomba-Gira Dama da  Noite. Quem já se consultou com essa grande mulher sabe dos ótimos  conselhos que ela sempre distribui entre sorrisos gentis e calorosos.  Laroiê a Dama da Noite! 
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