quinta-feira, 5 de março de 2015

História de uma Pomba Gira Menina

Apenas uma menina que perdeu sua inocência...

Essa menina doce e meiga, de olhar oriental, nasceu em Myanmar (Birmânia), no sul da Ásia, no ano de 1838 - na época uma colônia britânica.

Filha única de mãe solteira, abandonada em um orfanato, devido a falta de condições da mãe.
Não conheceu parentes, mas fez amigos entre as religiosas que cuidaram com muito zelo da pobre Ana Conceição.
Ao completar 18 anos deixou o orfanato indo trabalhar como doméstica na casa de um professor que ajudava nas despesas do orfanato e lecionava como voluntário.

Tudo transcorreu bem durante um ano, mas o senhor ficou gravemente doente e faleceu em seguida.
Ana viu-se sozinha e sem ter para onde ir.

Em sua tribo as mulheres não alongavam os pescoços com colares (como na Tribo das Mulheres Girafas), apenas tatuavam a pele quando eram prometidas em casamento para mostrar o compromisso e usavam uma pesada tornozeleira. No seu país todos os nativos eram budistas.

Pensando que a vida dela seria melhor em outro país, onde ela teria maiores oportunidades. Mas, ela conseguiu emprego como garçonete em um bar de péssima frequência, onde era comprada para servi-los de todas as formas. Então desde cedo, juntou-se a outras meninas que se tornaram escravas sexuais de seus tutores. Além de cozinhar, lavar e servir, elas deviam manter-se asseadas e bonitas, pois quando eram procuradas deviam estar dispostas a servi-los bem. Foi assim, que com apenas 18 anos de idade, já conhecia o mundo dos adultos. Para fugir dessa realidade aprendeu a consumir bebidas e a usar a pinang - uma espécie de planta misturada ao tabaco - que servia como estimulante. Aos 19 anos toda a sua noção de vida real havia se perdido e ela vivia entre a bebida, a droga e o sexo.

As meninas sofriam constantes agressões físicas por parte da mãe e do padastro que eram donos do bar e Ana começou a intervir com mais frequência.
Um dia escuta o amante da dona do bar dizer que odiava aquelas crianças e gostaria de matá-las.

Decidiu naquele instante fugir com as meninas e entregá-las aos cuidados das religiosas que a haviam criado. Como as crianças eram muito pequenas com 2 e 3 anos, foi fácil levá-las em plena madrugada, pois eram muito agarradas a Ana.

Deixou as crianças e voltou para não levantar suspeitas, por uns dias.
Era a primeira que acordava e preparava o café das meninas.

Foi ao quarto da mãe e simulou surpresa ao não ver as meninas.

A mãe tonta da bebedeira da noite, disse que elas deviam estar brincando de se esconderem.
Após uma busca pela casa, o bar e o quintal, constata-se o desaparecimento das crianças.
O amante da mulher chega e como já não gostava das intromissões de Ana, sugere que ela deveria ter vendido ou sequestrado as meninas. A mulher deixa-se contaminar pelo veneno do sujeito e interroga Ana com agressividade.

Ela tenta fugir, mas os dois a seguram e começam a espancá-la, exigindo que ela lhes revelasse o paradeiro das meninas, ameaçando matá-la.
Ana consegue escapar e fugir de seus agressores, saí correndo porta a fora e corre para o orfanato.

Um mês depois do ocorrido, Ana está voltando para o orfanato, quando dá de encontro com o padastro das crianças, ele fica furioso e a segura pelo braço obrigando-a a entrar em uma casa abandonada do outro lado da rua.
Inicia sua conversa com um tapa no rosto de Ana e diz que é só o começo. Mas Ana continua dizendo que não sabe o paradeiro das meninas.

Ele então diz que deseja ver a casa onde ela está morando a averiguar se não encontra nenhuma "surpresa".
Como Ana recusa a levá-lo, ele a espanca cada vez mais e seguidamente. Ana desmaia e é acordada com chutes e pontapés por todo o corpo, até que não resiste e morre.

Acordou no Plano Espiritual, em meio a espíritos sofridos, sem saber o que lhe havia acontecido. Uma avó que lhe amava muito lhe socorreu e levou-a a um hospital espiritual. Quando recuperou sua memória e sua decência, quis entender sua trajetória de vida. Pediu para trabalhar com meninas, que assim como ela, perderam toda a inocência antes da puberdade. A partir de então ela passou a visitar diversos lugares no mundo inteiro, onde haviam meninas que passavam pela mesma situação que a sua. Veio parar no Nordeste brasileiro e conheceu as meninas que também se tornavam escravas sexuais desde cedo. Pediu para ficar nesta terra e fazer parte de um novo trabalho. Conheceu a Seara do Caboclo Sete Encruzilhadas e percebeu que poderia ajudar sem ser julgada ou condenada. Poderia ser ela mesma e simplesmente trabalhar... Assim como ela existem outras meninas com suas histórias de dor e sofrimento e que também trabalham como Pomba giras Meninas na Umbanda Sagrada.

Esta é a história de Ana Conceição, a Pomba Gira Menina, que trabalha na Umbanda ajudando mães e crianças vítimas de todos os tipos de agressões.

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