quinta-feira, 5 de março de 2015

Maria Padilha da Figueira

Dizem ser mulher de Tiriri. Muito séria e não gosta de muitas falas, gosta mesmo é de chegar, sentir o ambiente, dar o recado e ir embora. Com o humor alternado, tanto pode estar bem, como pode se irritar e é certeira nas coisas que fala e promete.É muito franca no que fala, e ela faz.

Gosta champagne, anis, gosta de beber melado preferindo as bebidas mais fortes e doces, não podemos esquecer que exu bebe qualquer coisa. Não dá muita importância as jóias, mas gosta usar brincos e principalmente anéis, se assim ela pedir. Fuma cigarros e gosta de rosas, incensos de rosas vermelhas…

Suas cores são o preto, vermelho e roxo, sendo que o preto predomina. Não liga muito para as vestes, mas não dispensa uma saia, pois ela gosta de segurar sua saia e movimenta-la. Em uma de suas passagens foi uma bruxa muito forte nos tempos da inquisição.

Não é de muitos amigos, porém muito fiel e se você pedir com fé, ela atende. Não é de se mostrar muito em jogos de Búzios.Dona Figueira é uma mulher de meia-idade, tem cabelos negros e compridos, adora dançar o tempo todo. Conversa pouco, porém ajuda a muitos e sempre tem uma palavra amiga para todos os que a procuram.

Não é muito de amarrações ou união, gosta mesmo é de resolver o problema, chegando até se mais hostil em determinadas atitudes. Se trata de uma mulher educada, fala baixo e gosta de explicar as coisas como são. Muito carinhosa com as pessoas mais próximas a ela.

As lágrimas desceram lentamente pelo rosto de Giulia no momento em que fechou a porta e olhou para a cama velha com lençóis amarelados. Ali, naquela pocilga, passaria a viver de agora em diante. Antigas lembranças passaram diante de seus olhos. Resquícios de um tempo em que imaginara ser feliz. O casamento com Aprígio parecia ter sido há tanto tempo, e na realidade apenas cinco anos se passaram. O amor enorme que crescia a cada dia nos tempos de noivado, foi aos poucos se transformando em um apagado sentimento sem definição, amizade? Não, nem isso, apenas desamor, acompanhado de uma cruel sensação de mágoa. Dias e noites passados em solidão conseguiram destruir o castelo de sonhos. Quando conheceu Hugo, amigo de seu marido, o mundo pareceu criar novas cores. Ele sim, lhe dava atenção e carinho. Um mês inteiro de amor sem medida, paixão tórrida que arrebatava seu corpo e mente em total loucura descuidada. Aprígio um dia voltara, sem aviso, e os pegara em sua cama. Alucinado pelo ódio, desferiu três tiros sobre o amigo, matando-o instantaneamente. Ela, nua, correu. A lembrança das janelas se abrindo com pessoas apontando sua nudez entre comentários maldosos ainda envergonha. Alguém (quem seria?), jogou um velho vestido sobre ela que pode enfim cobrir-se, mesmo enquanto corria. Conseguira alguns trocados com uma prima que, no entanto, não a queria por perto e foi com esse dinheiro que alugou esse quarto miserável em que agora se encontra. Não há um amigo, um parente ou mesmo conhecido que a aceite e lhe estenda a mão. Sua vida acabou por completo. Na pequena cidade não há quem não a aponte com maldade (um pouco de nojo também). Ninguém entende o que se passou e ninguém quer escutá-la. Mas se nem ela mesma consegue entender e se perdoar, como esperar isso dos outros? Perdida em meio a esses pensamentos, relanceia o olhar pelo aposento e nota, a um canto, um lençol rasgado. É isso! Pega o pano e percebe que o rasgo, se aumentado, será uma grande tira. Lentamente passa a rasgar e amarrar as tiras. A janela é alta e nela prende a ponta do tecido, a outra ponta é enrolada no pescoço. Arrasta o pequeno criado-mudo e sobe. Com um pequeno pontapé no móvel, lança-se à morte. Seu espírito totalmente atordoado perambulou por negros caminhos de escuridão profunda. Anos se passaram até que Giulia conseguisse perceber os erros que cometera. Hoje, passadas algumas décadas, ela atende em nossos terreiros com o nome de Pomba-Gira Figueira. Tornou-se mais uma trabalhadora dessa grande falange que, apesar de ser pouco conhecida, sempre é lembrada em nossas trunqueiras.
Sobre a entidade.
As Pombas-Giras que atuam como Pombas-Giras da Figueira são espíritos femininos que viveram encarnações como sacerdotisas ou seguidoras dos antigos cultos pagãos em que se cultuava a Deusa ou a Grande Mãe.
Naturalmente, muitos desses espíritos se converteram à nova fé professada e institucionalizada como única e verdadeira em que a figura Divina fora substituída pela figura masculina.
Entretanto, muitas vezes isso aconteceu por causa do derrame de sangue nas mais terríveis torturas. E as mulheres convictas em suas crenças eram fortes o suficiente para bancarem o custo da sua fé, pois eram mandadas à fogueira, estas com madeira da árvore Mãe dos figos, a Figueira, devido à parábola bíblica em que Jesus condena a figueira que não deu frutos. Numa interpretação simplista, o povo ligou a algo amaldiçoado por si só.
Os espíritos que trabalham como pomba-gira atuam na vibração da figueira e têm em comum as experiências como as sacerdotisas, feiticeiras e curandeiras. Sempre os conflitos religiosos estavam presentes e os usavam para ajudar aqueles que as procuravam.
Elas são mestres nas artes magísticas e têm ocupado papel crescente através de ritos, práticas e ensinamentos. Seus pedidos atendem amor, saúde e prosperidade em todos os sentidos da vida.

Pontos:

Foi numa estrada velha na subida de um serra, numa noite de luar, de luar,
Pomba Gira da Figueira, moça bela e faceira da o seu gargalhar
por que, ela é mojubá, ela é mojubá, ela é mojubá…

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