segunda-feira, 28 de outubro de 2013

Magia da guia

Uma vez perguntei ao pai Maneco o que poderia ser tirado do ritual da Umbanda. Respondeu: "vou dizer o que não se pode tirar: as guias, os elementos, os mantras e a quimbanda". Na verdade, pela resposta, sobrou muito pouco. Mas voltemos às guias. A guia é o elemento de ligação entre o médium e o espírito. Imanta-se um campo de força nela centralizado, criando uma eficiente proteção contra eventuais energias negativas. Sempre carrego uma guia de miçanga pequena com a cor de meu Orixá.
Tempos atrás no encerramento de um trabalho de praia, uma médium não estava bem. O trabalho tinha começado às 20:00 horas. Eram quase 5:00 horas da madrugada. A última coisa que queria era perder tempo para o encerramento. Quis ser rápido. Não hesitei. Agarrei as mãos da médium e puxei aquela energia ruim. Em mim, saberia o que fazer. Deu certo, mas, além da indesejável vibração, atrasei catando na areia as contas da minha guia rompida no instante da passagem energética. Descobri ser ela um pára raios, ou melhor, um pára energias. A guia deve ser feita de acordo com a vontade do espírito. Guia não é colar e, muito menos, enfeite. Existem vários tipos de guia. A guia do Orixá cósmico é feita com pedras da cor cultuada pelo dirigente do terreiro. São pedras de cristal e suas miçangas podem ser distribuídas com bom gosto. Mas jamais exageradas ou grande.
Deve ser usada pendurada no pescoço e nunca atravessada no ombro. Guia de caboclo é feita com sementes de capiá, também conhecida como Lágrimas de Nossa Senhora, outras sementes como coronha (olho-de-boi), dentes, pedaços de ossos, bambus, conchas e outros elementos marítimos e até penas coloridas, tudo de acordo com a solicitação da entidade e conforme a sua origem.
Os pretos velhos são mais simplórios em suas guias. Gostam de muita simplicidade e preferem a guia inteira de sementes de capiá e poucos elementos.
Fiz uma guia para o Pai Joaquim, meu padrinho. Caprichei. Fiz toda cheia de elementos compatíveis com a sua força. Capiá intermediado com dentes, olho-de-cabra e outras coisas mais. Entreguei-lhe orgulhoso. Ele agradeceu muito. Só que na primeira consulta deu de presente ao consulente. Fiz outra. Arrebentou. Fiz outra mais suave, com menos elementos. Arrebentou. Fiz outra mais suave ainda. Arrebentou. Fiz outra só de sementes de capiá. Até hoje ele usa. Onde errei? Subestimei sua humildade. O Pai Tobias disse-me querer em sua guia um guizo de cobra. Fiz-lhe a guia, como queria, mas sem o tal guizo. Entreguei-lhe. Ficou alegre e eu também. Afinal não tinha reclamado a falta do elemento. Fez a mesma coisa que o Pai Joaquim. Deu de presente. Fiz outra, claro, com o guizo. Não presenteou mais. Guia não é nossa. Pertence à entidade, para nossa proteção.

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