Liu Siu, nasceu em um vilarejo remoto do litoral chinês. Seus pais eram pescadores e passavam por privações. Nessa época o país estava recrutando moças para tornarem-se gueixas e servirem aos homens da aristocracia, recepcionando os embaixadores e oficiais de outros países. Os pais de Liu Siu acharam que estavam fazendo o melhor pela filha ao dá-la para o governo em troca de provisões para a casa. Os meninos ajudariam o pai na pescaria e ela teria uma boa educação. Assim, com apenas 8 anos de idade, Liu Siu foi levada para uma escola de Gueixas.
Muitas meninas eram recrutadas para esse mesmo propósito e ao chegar a Xangai, Siu viu centenas delas pelas ruas. Chegaram a uma pensão-escola, onde as meninas eram selecionadas e separadas em pavilhões de acordo com a idade e aparência. Liu não era uma das moças mais bonitas da comunidade, mas possuía algo raro: o mar nos olhos. Na China, crianças que nascessem com olhos claros eram considerados descendentes dos turcos e mongóis, consquistados por Gengis Khan, portanto eram de uma classe de guerreiros. Liu Siu não sabia, mas seus avós eram mongóis.
As meninas realizavam serviços diversos e afazeres diários e, em troca, elas obtinham educação, comida e roupas. Para uma criança de 8 anos o serviço era puxado, mas as regras eram rígidas: se não fazia, não comia. E se desobedecesse: apanhava. Siu apanhou muitas vezes, não porque desobedeceu, mas porque seu corpo era franzino e ela não conseguia dar conta dos serviços. Então, muitas vezes não recebia comida e em outras não podia dormir. Mas, ela cresceu. Os dias se arrastaram e ela completou 15 anos. Tornou-se uma moça muita bonita, que começou a atrair olhares cobiçosos e de inveja. Mas ela ainda achava que era uma moça feia.
Um dia Liu Siu foi mandada ao mercado e por ela passou uma baronesa que já havia sido gueixa. Perguntou onde ela morava e Siu muito timidamente contou. A baronesa seguiu com ela até a pensão e pagou por sua liberdade. Siu pensou que sua vida seria diferente a partir desse momento. Ela foi levada a um palácio onde lhe banharam, lhe assearam e lhe vestiram. Depois a baronesa conversou com ela e lhe falou que lhe ensinaria a se comportar como uma lady. Durante 6 meses Siu foi preparada e tornou-se uma moça prendada. Então, chegou o dia que a vestiram com as melhores roupas e lhe passaram os melhores perfumes. Quando ela estava pronta, foi levada ao aposento real. Siu descobriu seu destino: ela seria a concunbina do imperador!
Siu nunca questionou sua vida, sempre seguiu em frente, mas ela sonhava com o amor e com uma vida diferente. Apesar de ser uma moça tímida, ela observava tudo o que acontecia em seu país e não concordava com as maldades que os chineses impunham aos menos favorecidos das nações vizinhas. Seus antepassados falavam com ela e seu sentimento de guerreira começou a aflorar. Durante um ano ela foi o que havia sido preparada para ser: a concunbina do imperador. Mas, aos poucos, começou a ter aulas de inglês, de esgrima e de artes marciais. O imperador achava que era um capricho de uma moça pobre que queria ser rica. Mas dentro de Siu brotava um sentimento de liberdade...
Quando Siu completou 18 anos ela era uma excelente esgrimista e lutadora. Ela conseguiu permissão do imperador e começou a passear pelos arredores do palácio, sempre acompanhada por alguns serviçais. Aos poucos ela percebeu que muitos jovens se reuniam às escodindas tramando destronar o imperador e conquistar a liberdade para os escravos da monarquia. Um dia ela conseguiu ir a uma dessas reuniões. Saiu do palácio na calada da noite e entrou sem ser reconhecida. Viu o líder: um jovem forte e belo, que falava do direito de todas as pessoas de terem sua vida e sua liberdade. Siu apaixonou-se naquele momento. Nem sabia o que era isso, mas sabia que seguiria aquele jovem onde quer que ele fosse. Ele era um ninja guerreiro preparado pelos Monges Tibetanos, que sabiam da intenção do imperador em tomar o Tibet.
A partir daquele dia Siu começou a frequentar as reuniões, sem saber que com isso colocava sua vida e a do jovem em risco. Aos poucos começaram a perceber sua ausência no palácio e um dia a seguiram. Então, na reunião seguinte, cercaram o local e renderam a todos. O imperador aproximou-se de Siu e agracdeceu a ela. O jovem pensou que ela fosse uma espiã e a olhou com ódio. Nessa hora, Siu reuniu toda a sua coragem e colocou-se ao lado do rapaz. Disse que preferia morrer livre a ter que ver seu povo continuar a sofrer. A lei da China é dura com relação a traidores e Siu conheceu o preço que pagaria por sua traição. O imperador mandou prender a todos, mas pediu tratamento especial a Siu e ao jovem.
Durante dias os dois foram torturados de muitas formas e depois foram levados à praça pública para a execução. Na frente de toda a população, os dois jovens estavam quase nus, sem cabelos e muito feridos. Dois algozes seguravam sua espada para decapitar os jovens. Siu havia descoberto o nome do rapaz: era Chao Pen. Enquanto esperava, ela lembrou de sua infância na praia, de sua adolescência roubada e de seus dias de princesa. Também lembrou do fogo da paixão que sentiu ao conhecer o anseio da liberdade. Olhou para o lado, para o jovem ajoelhado que seria morto como ela. Eles serviriam de exemplo a todos! Quando a espada desceu, Siu deixou uma lágrima escorrer. Estava com 19 anos, ela nada viveu, ela tudo viveu! Uma vida breve, cheia de aventuras. Mas, estava feliz, pois seria um exemplo a ser seguido.
A história da moça pobre que virou concunbina do imperador e que lutou pela liberdade dos tibetanos e dos pescadores, correu a China. Ela tornou-se um exemplo e muitas moças decidiram que seriam guerreiras como Liu Siu, para lutar pelo seu povo, contra a opressão de um imperador. Assim, a China iniciava uma nova história! E Siu uma nova jornada espiritual...
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